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Para ler ao som de "Carnival", de Natalie Merchant |
Datas comemorativas existem para ficar mais fácil nós não
nos perdermos no tempo e na nossa própria insanidade. Pelo menos é o que
pensava o jovem sonhador. Seus melhores carnavais eram aqueles fora de época, os
quais eram comemorados porque havia o desejo de brindar a algo ou alguém. Ao
contrário da tradicional data festiva brasileira, estes carnavais eram em preto
e branco, apenas com uma ou outra cor em destaque. E quer saber? Ele gostava
que fosse assim, afinal, era mais fácil encontrar as essências preciosas
destacadas no meio de toda a palidez nas ruas.
Apesar de ausência quase total de cores vivas, havia música,
muita música. A música nunca podia faltar. Sem rótulos ou estereótipos, a
trilha sonora era sempre bastante variada, e ia muito além de apenas
sambas-enredo e marchinhas, abrangendo até mesmo sons mais intimistas, vindos
dos corações mais introvertidos de músicos e musicistas que compunham aquele
cenário.
O jovem se sentia imerso em uma realidade paralela, na qual
caminhava quase despercebido no meio de toda aquela algazarra que acontecia
ali. Somente era notado por pessoas que tinham as cores em seus olhos ou em
seus lábios destacadas. “Será que eu também sou dono de algum traço de cor
para atrair essas pessoas?”, pensou por um momento. Talvez sim, talvez não.
Isso seria uma incógnita para ele, pois não
havia nenhum espelho ou alguma superfície reflexiva para que ele
pudesse se enxergar por um momento. Talvez fosse melhor assim. Às vezes a
dúvida é uma bênção.
Tudo parecia um sonho, daqueles bem delirantes. Nosso
personagem não se assusta com esses carnavais; eles já fazem parte de sua vida
há algum tempo. Fascinado e hipnotizado ao mesmo tempo, ele compreendia que,
mais do que celebração, estas festas sempre revelavam alguma descoberta de
tempos em tempos. Descobria ele fatos do cotidiano, uma ou outra nova alma que
sorria para ele no meio da multidão, além de poder ter um momento a sós consigo
mesmo, entre tudo aquilo que era preto e branco.
Mas o jovem sonhador sabia que toda essa experiência era
lúcida demais para se tratar de apenas um sonho. Questionava-se por que esses
carnavais fora de época aconteciam esporadicamente, e por que gostava tanto
deles. Ah, meu caro rapaz...Não busque entender; curta o momento. Muita racionalidade
em tempos de alegria tende a acabar com a festa toda. Apenas seja feliz e dance
conforme a música.
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