Felizes são as pessoas sem-idade; aquelas que agem sem se importar em seguir padrões etários. Um jovem não precisa, de fato, ser cool, assim como os senhores e senhoras que não têm a necessidade de se portar como velhos. A ação do tempo pode até oxidar por fora, mas por dentro o que ganhamos é a experiência, e isso não interfere em quem devemos ser.
Apesar de já ter percebido os sem-idade há algum tempo, a primeira vez que li sobre o assunto foi no livro “A Imortalidade”, do escritor tcheco Milan Kundera, no trecho:
“A senhora poderia ter sessenta, sessenta e cinco anos [...] Ela foi embora, de maiô, andando ao longo da piscina e quando já tinha ultrapassado o professor de natação aproximadamente uns quatro ou cinco metros. Virou a cabeça para ele e fez um gesto com a mão [...] Esse sorriso e esse gesto eram de uma mulher de vinte anos! [...] Por uma certa parte de nós mesmos, vivemos todos além do tempo. Talvez só tomemos consciência de nossa idade em certos momentos excepcionais, sendo, na maior parte do tempo, uns sem-idade. Em todo caso, no momento em que se virou, sorriu e fez um gesto com a mão para o professor de natação, ela não tomava conhecimento de sua idade. Graças a este gesto, no espaço de um segundo, sua essência de seu encanto, que não dependia do tempo, revelava-se e me encantava”
Assim como no romance de Kundera, acredito que todos nós sejamos pessoas sem-idade, nem que seja por alguns momentos. Como disse acima, felizes são os que têm consciência disso e levam esse pensamento para toda a vida.
Em uma mesa de bar, por exemplo, como todos ficam à vontade, é mais fácil perceber os sem-idade. É o caso da mulher que conversa com o rapaz sem ar de superioridade; a moça que troca palavras com o senhor sem pedir conselhos; a senhora que fala com outra senhora sobre coisas novas e não somente memórias; entre outros. Ser sem-idade é simplesmente conversar e agir sem se importar com que os outros vão pensar.
Quem nunca foi questionado sobre o desconforto da idade, independentemente da faixa etária? No fundo, não há com o que se preocupar, a não ser que os padrões sociais lhe sejam um fardo. “O regredido” e a “mulher com crise da meia-idade” são alguns dos personagens usados penosamente para julgar os sem-idade, fazendo com que a ação do tempo nos pareça mais pesada. Enquanto busca-se a perfeição estética e o ar jovial, seja por meio de exercícios físicos, o uso de cosméticos ou cirurgias plásticas, muitas vezes esquece-se da própria essência e da necessidade de trabalhá-la para, daí sim, harmonizar-se.
Gostei do texto, Rafa. Ah, apesar da população estar envelhecendo, graças aos avanços da medicina etc, as pessoas ainda se cobram muito com relação a idade. É como você citou da "crise da meia-idade", ou "você não está muito velho para fazer isso?". Obs: você ama o Kundera, né?!
ResponderExcluirBjs
Demência 43
ResponderExcluirVoava sem asas pelo infinito
Conhecendo estrelas,
Visitando galáxias,
Invadindo o universo.
De sobressalto acordei em uma ilha
Cercada pelo mar azul.
Eu estava só, sem ninguém!
Um órfão perdido no meio do nada.
Adormeci com o espetáculo do entardecer
E acordei com o hálito frio da manhã.
Não havia pássaros e nem peixes
O que houve por aqui?
Sentei e meditei.
Meus olhos dirigiram-se para algumas pegadas
Que iam em direção ao mar...
O que quer que tenha saído
Desistiu de continuar.
Por certo levou notícias
De um mundo outrora belo,
Mas que por descuido e negligência
Não sobreviveu ao próprio flagelo.
Quis retornar às estrelas,
Mas não pude.
Acordei de um sonho
No pior dos pesadelos:
A raça humana deixara de existir!
Agamenon Troyan é escritor e poeta mineiro, auto do livro O ANJO E A TEMPESTADE