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Para ler ao som de "What if I leave", de Rachael Yamagata |
Há tantas pessoas no mundo, tantas possibilidades de
relações, mas sabe-se lá porque eu escolhi você, que é adepta do desapego. Em uma multidão de faces sem
rosto, eu sou daqueles que se encanta em ver um sorriso que se destaca no meio
do aglomerado - no caso, o seu. Não tenho olhos
para aquelas outras pessoas, mas sinceramente, se tivesse, talvez tudo seria
mais fácil.
Felizes são aqueles que conseguem viver do desapego, apesar de que, sinceramente, acredito que no fundo deva ser uma situação triste, pois não existe raiz. Nós, que somos apegados, acreditamos no poder de criar laços e desejamos ter um porto seguro, um lar. Em um mundo onde o líquido está se transformando em gasoso, são raras as pessoas assim. É difícil ter um coração tão grande em uma sociedade que cada vez mais valoriza a frieza dos sentimentos.
Usemos nossa racionalidade para o trabalho, seja ele
profissional ou acadêmico. Para as relações pessoais, é de nosso direito usar o
coração. Não consigo entender como há pessoas que colocam limites em seu
sentir. Todos nós temos cicatrizes do passado. A grande questão é saber lidar
com isso. Nossas cicatrizes podem ser apenas marcas feias em nossa alma ou um
belo acolchoado de remendos que fez com que nos tornássemos quem somos hoje.
Durante muito tempo acreditei que se jogar de cabeça nas
relações era uma questão de imaturidade, pois ouvi muito isso. Cá estou hoje,
caminhando para os 30 anos, e continuo assim. A diferença é que agora eu
entendo e me aceito. Não se trata de imaturidade, mas sim de uma característica
que algumas pessoas têm de se entregar sem medo para um novo universo a ser
descoberto, sem receio de repetir os erros anteriores, pois se trata de uma
nova relação agora. Acredito que quem tenha sintetizado isso muito bem foi a
escritora Martha Medeiros, em “A raça dos desassossegados”, que deveria ser
leitura obrigatória nas escolas, para que mais pessoas possam se sentir
reconfortadas ao se identificarem com esse traço de personalidade que não
carrega todo o fardo dos dias de ontem.
O relógio continua batendo, o café está esfriando, e nós, os
apegados, continuamos aqui, alimentando esse bichinho chamado esperança, que
apesar de ser uma bela e agradável companhia – diga-se de passagem – também nos
traz questionamentos sobre até quando devemos seguir em frente com tudo isso. É
tão lindo quando o mergulho é a dois. Vem cá, vem comigo, prende a respiração e
vamos. Se dizem que o amor é mar, eu quero mergulhar.
que lindo texto, amei
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