14/04/2013

Sobre o silêncio e a solidão

Silencio_solidao
Após o júbilo inicial da solidão, tudo fica silencioso demais. Pode-se ouvir claramente a gota de chuva batendo na janela e o suspirar do cigarro parece ensurdecedor. A televisão perde seu charme, mas o rádio fica encantador. Ouvir algumas notas musicais tocando e vozes cantando, mesmo que sejam de uma gravação, preenche um pouco o vazio. Somente por alguns minutos.

Em algum momento, chega a vontade de se expressar. As teclas trabalham e as palavras surgem na tela, mas tudo isso não é suficiente. Até que o telefone toca e por um momento você se pergunta quem pode ser do outro lado da linha. Uma surpresa, é uma pessoa querida. Sorrisos se fazem ao conversar, até que chega a hora de dizer adeus. O silêncio retorna.

O corredor parece maior que o habitual e é possível ouvir o vizinho entrando em sua casa. Nasce a vontade de jogar uma partida de xadrez, mas neste caso é contra o computador, é claro. Após lances e mais lances, a partida termina. É hora do café, hora da poesia. E então tudo parece mais leve.

Há conforto dentro do livro de cabeceira. Páginas e mais páginas passam. Os melhores trechos ficam guardados na memória, mas logo a história chega ao seu fim e o livro é fechado. A leitura é prazerosa e logo o olhar fica inquieto, procurando algo de diferente dentro daquele ambiente tão familiar.

Os olhos não descansam e acabam sendo atraídos pelo relógio. O tempo passou. Amanhã outro capítulo será iniciado e tudo começará de novo. Durante o dia, tudo parecerá normal, até a chegada da noite e os momentos em que estamos somente em nossa própria companhia. Estes são difíceis, e com certeza são mais ainda para aqueles que vivem sós.

Morar sozinho não deve ser fácil. Já me falaram que a gente se acostuma. Mas não devíamos, como escreveu Marina Colasanti. Uma coisa é certa: tudo isso é maior que nós. Não podemos fugir e o esconderijo não é eficiente. Há de chegar um dia em que a humanidade poderá lidar melhor com essas questões. Conseguiremos?

2 comentários:

  1. Me identifiquei inteiramente. Pude imaginar todo o ambiente, pois me é familiar, hehe.. As noites frias ou chuvosas sempre trazem um clima de solidão, um convite ao silêncio, à contemplação.. Bom para a companhia de um livro ou música.. Uma sensação que parece que abraça a gente. Como vc disse, é a hora da poesia.
    A humanidade parece estar mergulhada numa obsessão por barulho, velocidade, excessos, distrações das mais descartáveis que exigem imediata substituição.. É bom saber desfrutar da solidão, nos seus momentos propícios, acalmar a mente. Ao invés de se acostumar com isso, aprender. Me gusta.

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  2. olá Rafael recebi seu email dia 15/04/ e só hoje estou aqui.. fiquei por algum tempo sem internet..passei por mudança não só de casa mas de estado.. e hoje lendo aqui e excluindo os desnecessários me deparei com o seu..mas pelo menos eu vim não é? amei o seu texto.. me vi nele..já morei sozinha por 3 anos..e no silêncio a noite é que as perguntas surgem..os ouvidos ficam atentos a todos os ruidos.. tudo parece maior e mais assustados.. mas o pior mesmo é lidar com a solidão dentro da gente..essa nenhum barulho a faz sossegar.... parabéns..vc é notável.. sua escrita prende a atenção.. um bom dia a vc..beijo

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