10/12/2011

Sem título

Vazio

O final de ano está chegando e ainda posso ouvir os sinos. O som não é o mesmo que toca em todo dezembro. O timbre, que soa um pouco assustador, já soa há tempos. Já passou da hora do almoço quando decidi passear pelas teclas pretas e brancas do piano que está perto da janela, para poder esquecer um pouco de tudo. O livro continua aberto, sem pressa para ser preenchido com intensas histórias, mas algumas páginas foram deixadas em branco.

Não se escreve uma trama com lacunas, mas mesmo assim algumas perguntas não foram respondidas. O sino continua soando lá longe, em uníssono, assim como a última faixa daquele disco de rock psicodélico que escuto desde minha infância. A música dá sentido a todas as coisas que estão suspensas, mas há uma voz que gostaria de saber o resultado de toda essa charada.

A máquina de escrever continua batendo as teclas. Nem sempre o ponto final funciona, mas o dígito de interrogação nunca falha. Se a espera é o caminho, estou cansado de aguardar. Na verdade não existe uma ansiedade em si, apenas um jovem coração bem-intencionado que não se conforma com tanto platonismo. O som do grande instrumento percussivo continua ecoando distante.

Agora que o calendário parou de correr, posso sentir melhor o gosto do café, que me acalma o ânimo e me faz planejar um futuro sonhador, mas sempre com os pés no chão. Estes mesmos pés, que caminham na noite escura, às vezes correm para alcançar o grande objetivo inalcançável. Há uma insistência quase infantil de desejar o dia de ontem como se deseja o amanhã, fazendo do presente uma grande caixa de Pandora. Tudo faria mais sentido se o passado recente não tivesse acontecido daquela maneira.

Os cacos quebrados estão espalhados pelo chão. Um silêncio toma conta do ambiente, mas ainda é possível ouvir os sinos. As notas agudas do piano tocam lentamente, criando a trilha sonora de uma trajetória esperançosa. Não me conformo com as páginas em branco, mas também não posso preenchê-las. O final da trama pouco me importa. Eu gostaria mesmo é de saber qual o nome que se dá para esta história sem título.

Um comentário:

  1. O ser humano e essa mania de querer saber tudo, eu tenho, mas uma coisa eu descobri esses dias que é impossível ter controle de tudo.

    Confesso, é lindo poder dizer com toda certeza o que quer ou o que sente - sem insegurança, sabe? Mas, aí vem a vida e te mostra que é preciso ter o chão um pouco escorregadio.

    Não queira saber o título dessa história, apenas faça ela acontecer. Por mais clichê que pareça as coisas realmente acontecessem quando a gente menos espera - sei que no final saberá!

    ResponderExcluir