Os olhos estavam atentos e os ouvidos ansiavam por uma das melhores músicas eruditas de todos os tempos: o Concerto para Violino em Mi Menor, Opus 64, do compositor Felix Mendelssohn. Era uma noite de apresentação de somente uma peça, mas que valia por uma suíte inteira de obras.
As cortinas se abriam e os aplausos já tomavam conta do teatro. O violino começou o tema da música, tímido, porém com muita determinação. A orquestra entrou logo em seguida repetindo o tema. Os batimentos cardíacos se tornavam mais fortes. Lembrei-me do início do ano, cheio de expectativas, porém silenciosas.
Os instrumentos de corda harmonizavam-se, alterando forte intensidade com calmaria. O público estava vidrado, absorvendo com a alma cada nota tocada. O maestro empolgava-se com resultado obtido.
Os clarinetes e flautas entraram para acalmar a música. Um novo tema, mais sereno, sonhador. O violino juntou-se, somando mais beleza à composição. Porém, havia certa melancolia, assim como os meses que sucederam a virada do ano passado para este.
Novos ares surgiam a cada passagem, me lembrando dos suspiros que eram alimentados por volta de maio. Por um momento a orquestra silenciou e o violino fez um grande solo que beirava a insanidade. Era possível ver nossas vidas representadas.
O tema era então reprisado. Tudo era muito familiar, como um Déja Vu. Logo, os intrumentos de sopro relembraram dos tempos de esperança, dos sonhos quase infantis, de querer que as coisas fossem diferentes. Não tinha como não se emocionar naquele belo trecho.
Uma mudança brusca ocorreu em seguida, e tudo se tornou tão sinestésico que os sonhos quase concretizavam-se diante dos olhos do público. Fogos, gritos, choros, cacos quebrados. Era Agosto. Uma passagem corrida se fez por setembro, com notas em vibrato, que eram respondidas pela orquestra com muita força.
A música se acelera, assim como foram os últimos meses do ano. Os últimos movimentos foram mais serenos e vivos, assim como Dezembro. Algo estava para mudar. Então veio o júbilo, a alegria, os novos ares, com muitas passagens interessantes.
O violino se apressou. A orquestra respondia até o fim triunfal, emocionante, cheio de vida. As três últimas notas foram tocadas em uníssono. Aplausos invadiam o teatro. Muitos aplausos. Um sorriso estava estampado no rosto. Enfim chegou a hora de virar a página, numa noite do concerto de uma só música, que colocou o ponto final daquele ano turbulento.
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