27/01/2012

Vertigens da memória [Parte V]

blue001

A música que está tocando é a que me toca. Lembranças boas e ruins se mixam em ondas sonoras. Por um momento, todo o tempo atual pára e o  passado se faz presente. É incrível como as composições podem recriar situações que vivemos. Mas será que nossas memórias condizem com os dias de ontem?

Ainda sinto um sabor amargo na boca, mas eu gosto. Sim, estou falando de sinestesia. As tragadas do cigarro matinal são as mesmas que me fizeram suspirar por muito tempo. Enquanto isso, tento descobrir o significado de todo aquele azul, que antes me parecia mais óbvio.

Hoje percebo que na verdade o tempo não voa, flutua, de maneira mais bela e leve do que as ninfeias. Enquanto os ponteiros fazem a contagem regressiva de nossas vidas, nem imaginamos o quanto tudo se transforma, até olharmos algumas fotografias antigas e novas marcas em nossos rostos no espelho nosso de cada dia.

O vinil da banda cinquentenária roda na vitrola, e os versos melancólicos que dizem odiar a tristeza nos olhos nunca fizeram tanto sentido. Os lábios se espremeram sutilmente, em forma de reprovação, quando a mente pensou que tudo pode rapidamente esmaecer.

A barulheira do despertador se faz presente, acordando o jovem em terceira pessoa. Se tudo aquilo parecia tão real, ele se torna suspeito para dizer que há outro alguém escrevendo um texto neste momento para tentar retratar o que sente, vertiginosamente.

Adicione um grão

Postar um comentário