Vertigens da memória [parte III]

Os antigos nômades eram sábios, mesmo que não percebessem o quanto. O constante deslocamento em busca de um estilo de vida melhor não dava trégua para lembranças, pois é muito mais fácil partir do que ficar. Quem se muda para outra cidade, por exemplo, não se apegará tanto ao passado quanto aquele que permaneceu, como um cão de guarda, esperando o grande amigo voltar para matar as saudades.

Os andarilhos urbanos são os nômades de hoje em dia. Ambos, apesar de não criarem raízes, têm uma relação mais amigável com o espaço-tempo no qual que vivem diariamente. Quem mora em um mesmo local há anos, paga com a saudade um preço alto pelo conforto e comodidade.

Mesmo que você não se apegue às lembranças, saiba que a nostalgia bate na porta de todos os lares, com maior ou menor frequência. Em uma dessas visitas, ela te levará para algum local que você não visita há anos, e o ambiente se tornará quase real, como se os objetos pudessem ser tocados. É bom reviver esses momentos, mas se isso acontecer todos os dias, não vale a pena.

Vinícius de Moraes já dizia que a saudade não compensa e a ausência não dá paz. Portanto, quando a nostalgia for embora, prepare suas malas e vá também, mas sempre olhando se ela não vai cruzar o seu caminho. Afinal, é muito mais fácil partir do que ficar, esperando ela te visitar.