Entre os dias rotineiros e os especiais, ecoam milhares de risos, sorrisos, planejamentos, lembranças, esperanças e muitas surpresas. Charles Baudelaire já falava disso implicitamente no poema “Embriagai-vos”, no qual o poeta traçava um ideal calcado no exagero e na absorção completa do mundo, de todas as maneiras possíveis. O importante é nunca deixar que o tempo torne-se um peso em nossa vida, e uma das maneiras de evitar que isso aconteça é encontrarmos a nossos próprios meios de descontração.
Eis o poema a que me refiro:
Embriagai-vos – Charles Baudelaire
“É necessário estar sempre bêbado.
Tudo se reduz a isso; eis o único problema.
Para não sentirdes o fardo horrível do Tempo, que vos abate e vos faz pender para a terra, é preciso que vos embriagueis sem tréguas.
Mas – de quê ? De vinho, de poesia ou de virtude, como achardes melhor.
Contanto que vos embriagueis.
E, se algumas vezes, sobre os degraus de um palácio, sobre a verde relva de um fosso, na desolada solidão do vosso quarto, despertardes, com a embriaguez já atenuada ou desaparecida, perguntai ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai-lhes que horas são; e o vento, e a vaga, e a estrela, e o pássaro, e o relógio, hão de vos responder:
- É a hora da embriaguez ! Para não serdes os martirizados escravos do Tempo, embriagai-vos; embragai-vos sem cessar!
De vinho, de poesia ou de virtude, como achardes melhor.”
É claro que não devemos interpretar literalmente o termo “embriagai-vos”. O que o poeta propõe é para não levarmos tão a sério a ação inexorável do tempo, que por vezes traz um sentimento muito maior que nós. Para “fugir” do peso que acumula sutilmente no cotidiano, Baudelaire sugere um estilo de vida que bebe na fonte do conceito de Carpe Diem, porém vai um pouco além. A visão aqui é voltada não somente para a intensa vivacidade de hoje, mas sim de todos os dias.
De minha parte, posso dizer que as coisas tem acontecido de maneiras um tanto quanto inesperadas. Cada vez mais tenho deixado de lado aquela ideia kármica que acredita no poder da lei da atração. Não quero dizer o destino está literalmente traçado, mas quem sabe ele tenha feito um esboço da vida de cada um de nós. O que completará esses traços imperfeitos serão nossas escolhas, atitudes e atos.
No fim das contas, acredito que o que realmente importa é absorver ao máximo tudo de todos os dias. Quando falo isso, não me limito apenas àquela linha de pensamento que foge de todos os males do mundo. É preciso sim vivenciar intensamente inclusive os maus momentos, para que destes consigamos aprender cada vez mais para – tentarmos – não errar de novo da próxima vez. Afinal, a felicidade não vem pronta, e muito menos de uma maneira fácil.
Por isso, sigo o que Baudelaire propôs em seu mais famoso poema e procuro brindar até os dias mais amargos, pois na maioria das vezes, é destes que adquirimos a tão valiosa experiência.
E para o outro dia toda ressaca será válida.
ResponderExcluirBelo post Rafa, gostei muito!
=)
Viver em excesso traz a possibilidade de uma ressaca, infelizmente!
ResponderExcluirValeu, Camila!
Fico feliz que tenha gostado do sincero post!
Abraços e até a próxima!