13/01/2010

Máscaras da perfeição

Mask
[Fotografia: Mask, por Hannah]

Simplesmente não entendo porque muitas pessoas ainda insistem em buscar a eterna perfeição em todas as coisas, pessoas e relações. É certo e absolutamente aceitável que estejamos querendo nos aprimorar cada vez mais, mas não creio que a eterna luta pela extrema virtuosidade seja uma atitude saudável. Mais lamentável ainda é a atitude de quem se mascara só para mostrar-se orgulhosa – e falsamente – a todo mundo uma pessoa de perfeição intocável que ela é. A grande verdade é que um dia as máscaras caem, por mais que esse processo demore longos meses, anos ou décadas. A personalidade perfeita um dia se revela, e isso pode ser um grande choque a todas as pessoas envolvidas na vida de um alguém mascarado.

Qual é o prazer em se mascarar, sendo que um dia esse disfarce será revelado e nos é necessário muita energia para mantê-lo vivo e convincente? Claro, há a fantasia, o mistério, e é por isso que à uma primeira vista esses disfarces são um tanto quanto sedutores, assim como é o ato de amor realizado em penumbra ou completamente às escuras, pois não se vê a realidade, somente o desejo e a imaginação fluem entre os amantes. Assim acontece no dia-a-dia dos mascarados: pessoas vivem constantemente num mundo de fantasia, aonde o prazer de seu bem-estar em sociedade está acima de todos os valores, não querem enxergar o óbvio e temem a claridade com que se revela o mundo ao seu redor.

Como se não bastasse uma máscara para mostrar toda sua – subjetiva- felicidade e suas belas – e insustentáveis - virtudes, há ainda quem use diversas máscaras, tantas máscaras que até na hora do autoconhecimento isso se torna um obstáculo.

Este tema me faz lembrar de Ludvik, personagem do romance “A Brincadeira”, de Milan Kundera, quando ele pensou: Mas quem era eu de fato? Sou obrigado a repetir: eu era aquele que tinha muitas caras (…) Todas eram verdadeiras: não tinha, a exemplo dos hipócritas uma cara autêntica e outras falsas. Tinha muitas caras porque era moço e porque não sabia eu mesmo quem era e quem eu queria ser. (No entanto a desproporção existente entre todas essas caras me dava medo; e nenhuma delas eu aderia por completo, e por trás delas eu evoluía, desajeitado, às cegas). É certo que as vezes esse disfarce é um tanto quanto ingênuo, mas o que dizer quando o uso desses disfarces é realizado de maneira consciente?

A meu ver, a verdadeira beleza está na sinceridade e na imperfeição, na aceitação do seu verdadeiro ser. Orgulho-me de pessoas que mostram-se em sua essência como elas realmente são; não têm medo de mostrar suas cicatrizes e seus traços imperfeitos. Não é belo tudo aquilo que é supérfluo, e muito menos a beleza e felicidade subjetivas que se escondem através de uma (ou mais) pesada(s) máscara(s) que muitos insistem em carregar.

Não devemos confundir superação pessoal com perfeição! Vamos buscar ser pessoas melhores, mas temos que compreender e aceitar o fato de que não existe a perfeição completa, não existe a total pureza e integridade de valores, sejam eles interiores e/ou exteriores. Vamos celebrar a autenticidade!

2 comentários:

  1. Não acho errado uma pessoa procurar a perfeição, mas o que ela deve saber é que pode até ser uma pessoa melhor, mas nunca perfeita, pois ninguém consegue ser. E acredito que ninguém deva tentar se colocar num pedestal, como se fosse intocável, realmente é preciso autenticidade e sinceridade.

    Bom, espero ter contribuido para o post. :)

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  2. Oi Rafael! Gostei muito de suas palavras, embora ache que o uso de máscaras também é necessário, mas não como forma de maquiar a verdade e sim porque creio que todos nós temos formas de agir diferente, dependendo da situação ou do contexto. Nada relacionado a questões vaidosas da perfeição.A nossa essência é o que nos define. Beijoca

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