Vida com trilha sonora

Pode parecer clichê, mas a frase de Friedrich Nietzsche diz tudo: “Sem música, a vida seria um erro”. Não consigo imaginar um mundo no qual não existissem os sons ritmados e harmoniosos que compõem essa que é a mais suprema das artes. Digo isso porque a música consegue transmitir muitas coisas até para quem não tem facilidade de captar os mínimos detalhes e significados presentes nelas. Assim como uma agulha num disco de vinil, nossa vida (disco) passa rapidamente enquanto nossa história (agulha) está sendo escrita. O desejo de marcar presença no mundo é o que faz a melodia.

É engraçado como a nossa vida é composta tanto de músicas que desejamos que façam parte dela quanto aquelas que simplesmente aparecem na nossa história sem ao menos pedir licença. Assim como nos filmes, com os sons que tocam ao fundo, as melodias tocam em nossas mentes em variadas épocas. Sempre haverão algumas músicas que nos marcaram em determinada fase que passamos, a ponto de quando a ouvimos de novo, seremos automaticamente “transportados” para aquele espaço perdido no tempo e vivo na nossa memória. Memória, essa é a palavra.

Posso soar um tanto quanto nostálgico e saudosista quando falo de memória, mas dela ninguém pode escapar. Mesmo quando vivo meu hoje, as vezes me lembrando de ontem, já imagino que certos momentos atuais eu lembrarei amanhã, pois esses momentos são muito especiais para mim. Mas as vezes me cobro de uma certa maneira e me questiono se não teria eu um certo “espírito de historiador”, pois fico imaginando os fatos que vou lembrar e que vou sentir saudades no futuro, só que tudo isso através da música. Por isso faço parte daquelas pessoas que acreditam que a vida possui uma trilha sonora.

Tenho uma mania incomum de anotar ao fim de cada ano quais foram as músicas que mais me marcaram durante aqueles 12 meses, e há muita coisa que fica por muito mais tempo. Não são necessariamente sons atuais, há muitas melodias já antigas, mas que passaram a fazer significado para mim somente durante determinada fase da vida, que por conseqüência só significaram algo para mim durante aquele período.

Mudam os sons, mudam as cores, e a essência nisso tudo também pode mudar, porque nós mudamos. E como diz o ditado popular: “não estamos piores nem melhores, apenas estamos diferentes”. Assim como mudamos, muda o mundo ao nosso redor, nossa personalidade se molda com o mundo, e mudam também as pessoas. Tudo isso será refletido na arte, tanto de quem produz quanto de quem consome.

Infelizmente não é todo mundo que pensa na importância de ter um fundo musical que ficará tocando em nossa mente por muito tempo. Como foi mencionada a frase de Nietzsche no início do post (“Sem música, a vida seria um erro”), reforço a idéia dele, pois defendo a importância de não ser indiferente perante àquela que é a mais viva das artes. A música está aí, e permitir-se que ela faça parte da sua vida é uma escolha pessoal.