31/10/2009

Os olhos que observam o mundo

Aquele indivíduo sentou-se na escada após seu longo e interminável dia e pôs-se a observar o ambiente ao seu redor. E notou como são de certa forma engraçados aqueles olhares que o encaram e que parecem gritar: “o que você está aí esperando?”, como se ele fosse obrigado a estar em constante movimento e não pudesse parar - somente por cinco minutos antes de partir - e contemplar o universo ao seu redor sem pensar em nada.

E tudo o que aquele indivíduo mais quer é poder desvendar todos os mistérios das pessoas, dissecar seu comportamento, seus pensamentos, seus desejos e atitudes, tudo nos mínimos detalhes. Se ao menos ele pudesse descobrir todos os segredos de uma pessoa sequer, ele seria eternamente grato. Mas parece-lhe que a sociedade, de uma maneira geral, está muito fechada e cheia de enigmas cada vez mais indecifráveis, e isso é frustrante demais para alguém que é ávido pela vida... Vida. Essa é palavra!

Foi quando ele conheceu a Filosofia que pôde receber, ao mesmo tempo, a maior bênção e a maior maldição de sua vida. O amor pela sabedoria nos faz pensar sem parar a partir do momento em que ela faz parte de nossa existência. Ficamos e provavelmente ficaremos assim até nossos últimos dias, ad infinitum, a refletir sobre tudo e todos e a quase nunca chegar a uma conclusão concreta.

Mas tanta reflexão e análise acabam por nos trazer a visão pura de nossa verdadeira essência; é aí que descobrimos que aquele indivíduo não é meramente um indivíduo, e podemos passar a vivenciar as coisas de uma maneira mais sensata e consciente, sem sermos egocêntricos. É nesse momento que “ele” passa a ser “eu” e passamos a nos relacionar conosco de forma realista e com os pés no chão, às vezes até demais.

Descubro que aquele indivíduo sentado na escada com os olhos que observam o mundo, nada mais era do que o meu verdadeiro “eu”, minha essência, minha personalidade. E aos poucos descubro tudo aquilo que me permeia e que está dentro de mim, descubro minha vida, minha música, meu som...

...e minha vida soa como denso Rock-Blues, tocado em um violão de 12 cordas com os bordões afinados em uma freqüência mais baixa que as demais. Junto a essa trilha sonora, me vejo a apreciar um belo pôr do sol enquanto o vento leva fragmentos da minha memória no ar, fragmentos esses que vão e às vezes parecem que nunca mais voltarão.

Chegou a minha hora de partir. Levanto-me da escada e sigo meu caminho, mas uma pergunta surge e permanece em minha mente: “Eram realmente meus olhos que observavam o mundo, ou os olhos que observavam o mundo seriam os da coruja?”

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